segunda-feira, 29 de julho de 2013

''AO COMPASSO DE UM TANGO ''



 
desperto-me em emoções espargidas,
poeira de velhos mundos
a dançar estrelas revividas. . .


abraço soluços do amar
entre sorrisos de águas
enamorados de som-luar. . .


num derramar-se de alma
há beijos florindo horizontes
sob olhares perdidos em calma. . .


e vestindo pedaços de infância
num cortejo de juventude ilusão
- breves sonhos!
ao embarcar nas distancias. . .


Mas, ao compasso de um tango,  
eu ainda,
sonho, revivo e amo!



Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos

''ENTRE BELOS MATIZES . . .''



 
Desejo,
anseio,
tocar na policromia dos horizontes,
aquém, lá. . .


e,
ao pintar-me dessas fontes
inebriar-me de belezas,
dançando com a alegria e a tristeza. . .


Roubar o indecifrável. . . dessas presenças.


E aos infinitos,
enciumados,
abandonados. . .
emprestar-lhes
meus presentes beijos.


Desejo,
anseio,
morrer entre cores
sob o olhar ardente dos infinitos,
sem que o amanhecer
discorde. . . exuberâncias
com o entardecer!



Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos


 [Tela de Josephine Wall]


''CONFITEOR''

Perdoa-me, oh Senhor!
. . . querer sentir-me ilha
após os vendavais.


Perdoa-me, oh Senhor!
se lagrimas são sorrisos à Natureza
e se meus sorrisos
choram. . . cascatas sem belezas,
. . . desencantamento ao desamor.


Perdoa-me, oh Senhor!
quando a Natureza
aceita-me com mais calor!


Minh’alma é flor
que na beira da estrada
esqueceu-se de colhê-la,
o perdulário viajor!



Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos

''SOU FEITA ASSIM''




de conchas que o mar arremessa
na areia pálida e inexpressiva
de meus dias e minhas noites.

de ar triste
como as longas tardes
nubladas de tantos invernos.

de incertezas na ânsia incontida de
descobrir novos brinquedos.
(nunca machucados)

de uma argila descolorida
buscando formas, perfumes e sorrisos
sorrisos de todas as rosas.

Sou feita assim
á espera do irreal.

Alvina Nunes Tzovenos

In: Palavras ao Tempo


Eu sempre quis inventar


 Eu sempre quis inventar.

. . . que a vida era doce de mais
tão doce
que os nossos sonhos viviam lambuzados.

. . . que o amor era o universo
vestindo verdades de luzes como rios.

. . . que a morte era um dia de festa
um presente colorido.

Eu sempre quis inventar
a vida e o amor e a morte
mas
foram eles quem me inventaram.

Alvina Nunes Tzovenos
de Palavras ao Vento

''DENTRO DO TEMPO''

 E haverá sempre
um compromisso com a vida
com as flores, com a nostalgia dos dias.
Vestimos coragem
sem uma vigília deslumbrada
como a enfrentar os flancos de uma montanha.
. . . sem sangue ou lágrima
na condição de nunca persistir
em pesado silêncio
. . . como que aspirássemos a grama verde
das primaveras precoces.
Não haverá tempo sem tempo
e as cicatrizes invisíveis
falarão de casas mal-assombradas
perdidas na imaginação.
E haverá sempre um compromisso com a vida.

Alvina Nunes Tzovenos

''NOSSAS CRENÇAS''



Há em todos nós uma aurora humana
de pedestais sem flores negras
quando falamos com olhos nos céus.
Há em todos nós um crepúsculo
nunca desumano
porque roseirais nunca queimados
estão a nos habitar a cada momento
no toque de cada pulsação
sem vestígios de veias sepultadas.
Há em todos nós heras silenciosas
que nos habitam sem sombras
quando sabemos amar.
Há em todos nós um grito de espera
sem névoa ou frio
ainda que primaveras
perdidas entre sóis quebrados
teimem a nos açoitarem em cólera.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

quinta-feira, 11 de julho de 2013

''OUVINDO''




O bater do sino
plangente a perguntar
respondo-lhe
-minhas canções
ainda não adormeceram em paz
-meus rios continuam perdidos.
Bate o sino
grávido de pressentimento
austero
sonhador do amanhã
a martelar consciências
chorando melancolia
e a falar como quem morre.
bate o sino
é hora de calar
ouvir aqui dentro
bem dentro, um outro sino
a soluçar, soluçar.

Alvina Nunes Tzovenos
de Palavras ao Vento

''SÚPLICA''



 
Já não me importa que lá fora
o sol em desbaratada corrida
perdeu-se ou esqueceu-se de mim.

Já não me importa que lá fora
todos os mortos sejam esquecidos
ou que meus ouvidos não ouçam preces.

Já não me importa que lá fora
as calçadas e as crianças que brincam nelas
não vejam o barulho do vento nas folhas de outono
já tão amarelecidas . . .
não me importa.

Só me importa que todos os vendavais
me sejam constantes como sinos de igrejas
nas horas graves.

discretos 
sem deixar marcas de sangue ou
como ave que desprende seu primeiro vôo.

Alvina Nunes Tzovenos
in Palavras ao tempo.