quarta-feira, 18 de setembro de 2013

''MUTAÇÃO''


Eu busco o infinito das coisas,
Só encontro o finito do nada ...

Anseio um brinquedo desejado.

Procuro nas estrelas
O momento de meditar
Mas vejo-as
Em repetida fulguração!

Quero entre as flores
O desejo da perfeição
Mas encontro
Pétalas fenecidas!

Ouço entre pássaros
A alegria de cantar
Mas esse canto
É monotonia esmaecida !

No tudo,
Nos olhos pousando
Nas mãos tocando
Nos ouvidos escutando
Um repetir-se de ritmos iguais, como num prosaico relógio
Marcando horas banais !

Alvina Nunes Tzovenos
de 'Sonhos e Vivencias'

''EMBRIAGUEZ''


Na sonoridade das luzes opacas
divisa-se a embriaguez
das distancias tocáveis
a luz do mistério nos desertos
os sonhos sufocados
num fim de tarde crepuscular.


A embriaguez
dos ecos colorindo-se
despe formas austeras, vetustas
o amor assume lealdade
o sexo alucinado
ama a razão do amor.


Na sonoridade das luzes opacas
vive-se a embriaguez
do ébrio
sóbrio de ilusões falsas
feliz de realidades dançarinas
ao fingir-se lírios e demônios.


Na sonoridade das luzes opacas
embriago-me
de perdidas emoções.



Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo


[Tela by Rembrandt]

domingo, 1 de setembro de 2013

''TUDO EM VÃO''

Galopei pelos sonhos da noite e lá
enchi de ilusões trigais
todas as minhas taças
de compreensão, doação
mas depois
esfacelando-me como cristais
viu seu pó dissolver-se ao vento
sem indagações nem respostas.
Voltei só
com o peito apertado
como se volta de uma guerra
sem vitórias, sem medalhas.

Recompus-me só
como ave ferida.
Ergui meus gastos pedestais
sorvi o beijo das auroras claras
e lancei-me aos horizontes verdes
convidativo às caminhadas.

E continuei novamente
a sorrir dentro da noite.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

''LABIRINTO''


. . . nesse emaranhado de asas partidas
sente-se a dor dos afogados
um quebrar-se de ossos frágeis
e um estalido de cristal partido.

. . . entre névoas de solidões
pressente-se o beijo das coisas mortas
o nunca regresso de um anjo que se exilou
quando a hora gemia em dores
no seu crepúsculo cismarento.

. . . as cores se confundem como confetes
de um carnaval sem música
os adeuses perdem sua expressão
os loucos adquirem sensatez
(a sensatez das coisas banais).

No labirinto da vida
encontro o carrossel de todas as vidas.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

''CONCERTO DE PASSOS''


Ouço passos
na calçada da ilusão
orquestra de um sonho.

Nuvens quentes
em concerto
brincam de Mozart, Chopin.

Em passos de concerto
o céu tornou-se cenário
palco festivo
de estrelas dançarinas
namorando a lua.

Solene e grave
a orquestra
veste-se de noite.

Há concertos de passos
passos de um concerto
a brincar de sonhos
-ela é nossa emoção.


Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

''PERPETUANDO-SE''




Coloridas imagens
tingindo em cores de imagens
cegam todos os céus
enfeitam todas as várzeas
desenham a vida.

Van Gogh ou Renoir
chorariam jamais
sobre painéis dessas crenças.

Crenças de luzes ou sombras
soldados enfileirando-se
descrever de vozes.

Execução de sorrisos
ardor de perfeição
sentimento carícia.

Coloridas imagens
imagens coloridas
sangrando
em cores
em cores de imaginação
em cores de sons.

Alvina Nunes Tzovenos
em 'Palavras ao tempo'