quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

VIDAS QUE PASSAM

 
Velho Ano embarcando
. . . sabor de caricias já mortas.


Novo Ano cantando
. . . ilusão de ofertas tão mornas.


Novo Ano a nascer
é uma estrela amanhecendo . . .


Velho Ano a morrer
é um pássaro fenecendo . . .


Anos brotando
Anos partindo,
. . . madrigais floreando
. . . barcos fugindo


Novo Ano, Velho Ano
. . . janelas de vidas
. . . folhas secas . . . repertidas.


Velho é o Ano em que novo
sorriu numa noite assim . . .
ANO NOVO - és para mim
aquele ANO VELHO – o mesmo sem fim! 



Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos

terça-feira, 19 de novembro de 2013

''AO EXPRESSAR-SE''

Dize da vaga incerta
a bailar sem ausências
sobre teu navio incerto
branco de ausências e canções.

Dize das ruas desertas
de tua canção angústia
desse desejo de regressos
desse choro em tuas varandas . . .

Dize da esperança que não espera
quando teu universo é paz
da noite que não desespera
quando a chuva faz compassos
dentro d’alma.

Dize de ti, do tudo
e do mundo, sem submundo
quando raízes exalam aromas
e quando as flores não morrem.

Alvina Nunes Tzovenos
Palavras ao Tempo

terça-feira, 5 de novembro de 2013

''DESTINOS''

E as naves partiram
levando rumos desiguais.


Era noite
e os barcos não vinham.


Havia um regresso de vozes
e um peso de solidão grunhindo no ar.


A manhã custava a se fazer
era um parto demorado
com manchas douradas
que anunciavam um novo ser.


Os campos choravam de bênçãos
e, o ar doce, feria de odores
as narinas da manhã já desperta.


Ouvia-se a vida
no amor das flores, no sabor das cores e no odor
das horas que se assenhoreavam.


. . .  éramos nós que amanhecíamos
. . .  éramos nós que amávamos
amávamos o amor da Vida!



Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo


[Arte de Christian Schloe]


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

''NASCERMOS DE NOVO''


quando
a ferrugem dos dias iguais
a sarjeta das dores
o nublado dos céus incoerentes
o sal dos amargos silêncios
a fome e a sede e a angústia
de sentir paz

descolorindo suas vestes
derramarem em planícies fiéis
o mel dos espelhos precisos
com suas cores de exatidão imortal
sem pressa de fugas
sem abandonos de alcovas

sementes de sangue novo
agitarão bandeiras ao vento.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

''PALAVRAS AO VENTO''


. . .  giram no ar
       e como gazelas longínquas
       ou flor sem espinho
       só fogem e cansam e desolam.

. . .  gritam ao tempo
       em branco
       e do outono
       tudo dizem.

. . .  frívolas ou mentirosas
       não marcam horas
       ou dizem das estações.

. . .  castigam bocas
       sedentas de verdade.

. . .  flutuam
       são barcos
       sem memória.

. . .  vazias
       cantam baladas
       baixinho, sem vida.

Palavras ao vento
-tu as levaste
mas nunca
entregue-as a mim.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

[Tela de Rimma N. Vjugovey]

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

''A vida tem cores''


Nas cores da vida,
Em aquarela tingida
... desenha luz e som !

A vida tem cores
No beijo dos pássaros, num adeus sem perfumes
... no pólen da flores!

A vida tem cores
Numa palavra amarga,
Num céu muito amplo
... presença que tarda!

A vida tem cores
Num abraço amoroso
Num sorriso que chega
... num crepúsculo cheiroso!

A vida tem cores
Nos sonhos vividos,
Nos mares inquietos
... nos encontros perdidos!

A vida tem muitas e muitas cores,
As que ninguém pode ver,
Quando minh’alma chora e ri
Pela felicidade
Que eu posso conter!

A vida tem cores
Mesmo num coração morto!


Alvina Nunes Tzovenos
de 'Sonhos e Vivencias'

''SE EU FOSSE''


Se eu fosse
O que não sou ...
Odiaria as minhas mágoas ...

A meiguice do entardecer
Me faria sorrir ...

Ouviria as estrelas,
Sem ciúmes. Amando-se
Ao inquieto marulhar
Pesado das marés.

Alvina Nnes Tzovenos
de 'Sonhos e vivencias'

[Tela by Catrin Welz-Stein]

''INSATISFAÇÃO''


Sendo vida,
És abismo.
Sendo lágrima,
És rosa desfolhada.
Sendo felicidade,
És um porquê
De indagações.
E se eu renascesse,
Trar-me-ias a vida
Como motivação
E a serenidade transbordando
Luzes,
Nas angústias
Do MEU AMOR?


Alvina Nnes Tzovenos
de 'Sonhos e vivencias'

''TU''

 

Em minha mocidade,
Olhando os céus
Procurei-te nas estrelas.

Onde andavas ..?
Em que paragens
Longínquas,
Além mares?

Eu só esperava ...
E uma estrela
Logo chorou ...

De repente
Criou
Alma, corpo e vida.
E descendo docemente,
Quase divinamente,
Chamou-se TU !

Alvina Nnes Tzovenos
de 'Sonhos e vivencias'

[Tela by Catrin Welz Stein]

''RIOS''


Rios de minh’alma
Caudalosos de amor,
Correntezas sem calma
Descolorindo-se
Às vezes em dor!

Nascentes tão puras,
Despejam venturas
Após desventuras,
Naufrágios de Amor!

Ontem turbulentos,
Hoje venturosos,
Amanhã silenciosos

...águas de sangue
...águas de luz!

Rios de minh’alma:
- desviastes tantos cursos
Buscando margens seguras ..!

Repousastes
Num eterno espraiar ...,


Alvina Nnes Tzovenos
de 'Sonhos e vivencias'

[Tela by Rimma N. Vjugovey]

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

''MUTAÇÃO''


Eu busco o infinito das coisas,
Só encontro o finito do nada ...

Anseio um brinquedo desejado.

Procuro nas estrelas
O momento de meditar
Mas vejo-as
Em repetida fulguração!

Quero entre as flores
O desejo da perfeição
Mas encontro
Pétalas fenecidas!

Ouço entre pássaros
A alegria de cantar
Mas esse canto
É monotonia esmaecida !

No tudo,
Nos olhos pousando
Nas mãos tocando
Nos ouvidos escutando
Um repetir-se de ritmos iguais, como num prosaico relógio
Marcando horas banais !

Alvina Nunes Tzovenos
de 'Sonhos e Vivencias'

''EMBRIAGUEZ''


Na sonoridade das luzes opacas
divisa-se a embriaguez
das distancias tocáveis
a luz do mistério nos desertos
os sonhos sufocados
num fim de tarde crepuscular.


A embriaguez
dos ecos colorindo-se
despe formas austeras, vetustas
o amor assume lealdade
o sexo alucinado
ama a razão do amor.


Na sonoridade das luzes opacas
vive-se a embriaguez
do ébrio
sóbrio de ilusões falsas
feliz de realidades dançarinas
ao fingir-se lírios e demônios.


Na sonoridade das luzes opacas
embriago-me
de perdidas emoções.



Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo


[Tela by Rembrandt]

domingo, 1 de setembro de 2013

''TUDO EM VÃO''

Galopei pelos sonhos da noite e lá
enchi de ilusões trigais
todas as minhas taças
de compreensão, doação
mas depois
esfacelando-me como cristais
viu seu pó dissolver-se ao vento
sem indagações nem respostas.
Voltei só
com o peito apertado
como se volta de uma guerra
sem vitórias, sem medalhas.

Recompus-me só
como ave ferida.
Ergui meus gastos pedestais
sorvi o beijo das auroras claras
e lancei-me aos horizontes verdes
convidativo às caminhadas.

E continuei novamente
a sorrir dentro da noite.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

''LABIRINTO''


. . . nesse emaranhado de asas partidas
sente-se a dor dos afogados
um quebrar-se de ossos frágeis
e um estalido de cristal partido.

. . . entre névoas de solidões
pressente-se o beijo das coisas mortas
o nunca regresso de um anjo que se exilou
quando a hora gemia em dores
no seu crepúsculo cismarento.

. . . as cores se confundem como confetes
de um carnaval sem música
os adeuses perdem sua expressão
os loucos adquirem sensatez
(a sensatez das coisas banais).

No labirinto da vida
encontro o carrossel de todas as vidas.

Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

''CONCERTO DE PASSOS''


Ouço passos
na calçada da ilusão
orquestra de um sonho.

Nuvens quentes
em concerto
brincam de Mozart, Chopin.

Em passos de concerto
o céu tornou-se cenário
palco festivo
de estrelas dançarinas
namorando a lua.

Solene e grave
a orquestra
veste-se de noite.

Há concertos de passos
passos de um concerto
a brincar de sonhos
-ela é nossa emoção.


Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

''PERPETUANDO-SE''




Coloridas imagens
tingindo em cores de imagens
cegam todos os céus
enfeitam todas as várzeas
desenham a vida.

Van Gogh ou Renoir
chorariam jamais
sobre painéis dessas crenças.

Crenças de luzes ou sombras
soldados enfileirando-se
descrever de vozes.

Execução de sorrisos
ardor de perfeição
sentimento carícia.

Coloridas imagens
imagens coloridas
sangrando
em cores
em cores de imaginação
em cores de sons.

Alvina Nunes Tzovenos
em 'Palavras ao tempo'




quarta-feira, 14 de agosto de 2013

''REMENDANDO CRISTAIS''




Em quais vezes já morri?
Por quantas vezes já morri?

Que importa?
A quem importa?

O vento varre tudo.
A chuva vai e vem
vem e vai.
O sol também morre.
Coitado do sol.
Mas
enquanto houver
ainda horizontes meus
bordados pelas esperanças minhas.
Oh! essas ilusórias auroras.

E enquanto houver ainda
rosas e paisagens
em retinas minhas
minhas telas
fugazes ou mentirosas
então talvez
eu ainda, ainda ressuscite
podendo lutar
e comigo brigar
na ânsia louca de buscar
vozes, olhares e gestos
e como num carnaval brincar
dentro e abraçada ao calor
dos verbos: Voltar – Acreditar.

 Alvina Nunes Tzovenos 

In: Palavras ao Tempo



terça-feira, 13 de agosto de 2013

''DESENCANTO''



 
E na tarde que foge
Ao correr vou buscá-la.
Contar-lhe todos meus sonhos
pedir sorrisos ao beijá-la.


Mas. . . silenciosa ela zomba
nem me estende suas mãos,
. . . já é fruto de sombra!


Quero luz! não sua morte.
Mas tão lenta e tão triste
. . . já pressente sua sorte.


Lá vai ela. . . pobre tarde
carregada em soluços.
Traz nas cores tantos mundos
. . . de um só mundo que parte!

 

Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos