quarta-feira, 14 de agosto de 2013

''REMENDANDO CRISTAIS''




Em quais vezes já morri?
Por quantas vezes já morri?

Que importa?
A quem importa?

O vento varre tudo.
A chuva vai e vem
vem e vai.
O sol também morre.
Coitado do sol.
Mas
enquanto houver
ainda horizontes meus
bordados pelas esperanças minhas.
Oh! essas ilusórias auroras.

E enquanto houver ainda
rosas e paisagens
em retinas minhas
minhas telas
fugazes ou mentirosas
então talvez
eu ainda, ainda ressuscite
podendo lutar
e comigo brigar
na ânsia louca de buscar
vozes, olhares e gestos
e como num carnaval brincar
dentro e abraçada ao calor
dos verbos: Voltar – Acreditar.

 Alvina Nunes Tzovenos 

In: Palavras ao Tempo



terça-feira, 13 de agosto de 2013

''DESENCANTO''



 
E na tarde que foge
Ao correr vou buscá-la.
Contar-lhe todos meus sonhos
pedir sorrisos ao beijá-la.


Mas. . . silenciosa ela zomba
nem me estende suas mãos,
. . . já é fruto de sombra!


Quero luz! não sua morte.
Mas tão lenta e tão triste
. . . já pressente sua sorte.


Lá vai ela. . . pobre tarde
carregada em soluços.
Traz nas cores tantos mundos
. . . de um só mundo que parte!

 

Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos


''CONTEMPLAÇÃO''



Eis que passa o vento e depois vem a chuva
desenhando arabescos de vales e montanhas
sobre terra molhada de lágrima e suor.

Ela é deusa de chinelos velhos
a pisar conchas doiradas de ilusões
reflexos de sonhos.

E num riso doido ela não cerra suas pálpebras
torna a pingar lentamente como música
cigarra falando baixinho ou
conchas sussurrando mar.

E no seu andar de garça preguiçosa
continua a tilintar em meus ouvidos
num zum-zum de insetos
tão discretos.

E a cair e a cair
desprende seus braços úmidos
como sal de praia
a tocar meus olhos também úmidos.


Alvina Nunes Tzovenos
Palavras ao Tempo

''TRANSIÇÕES''

Mastigando raízes de eternidade
adentro-me pelas colinas dos céus
onde Deus é meu relógio.

E buscando sabedoria
não me torno deserto e nem ausência.

Recolho em minha solidão
muralhas de calmaria
sem gemido de dor ou morte.

Em meus redemoinhos 
viajo entre cansaços de séculos
adornada de crisântemos amarelos.

Em minha ausente juventude
não há abismos em voragem.
Trigo, fonte e pombas
ornamentam minhas varandas.

A noite ajoelhada soluça
em seu tapete e entre velas.
O tempo que é túnel
fala das estações 
derramando chuva de invernos
até às eternidades.


Alvina Nunes Tzovenos
Palavras ao Tempo



''DISTANCIANDO-ME''

Já quando o tempo não me trouxer mais
lembranças de ti, de tua serenidade
estarei alerta aos sons
dos esquecidos que almejam a paz.

Já quando o tempo não me trouxer mais
verdades de ti, sem medo ou pranto
eu lembrarei das manhãs silenciosas
cheirando a outonos precoces
ou a morangos silvestres.

Já quando o tempo não me trouxer mais
ânsias de amar, de viver
estarei só, na meditação dos invernos
como pombas em crepúsculos, nos cais
à espera de novos rumos
sem barcos tardios ou vazios 
à espera de mãos
como criança que se deixa levar
na ilusão de um brinquedo
ou facho de luz que busca seu caminho
dentro da eternidade.


Alvina Nunes Tzovenos
Palavras ao Tempo

''NUM GRITO DE REVOLTA''



Há uma erupção de mistérios
dentro da natureza.
Se faz áspera ou sutil
agrega-se ou se torna estéril
ou sem veias
ou vestindo reinados.

Oh, contradições!
dói na carne, nos ossos 
a realidade do imaturo
do fruto precoce
da noite que despertou
aos gritos, raivosa
com a manhã tão graciosa.

Odeio o verbo
na condição do ser imperfeito
da majestade do que é o nada
e do lodo
a não vestir-se de estrelas.

Onde está o perfume da violeta?
Onde dormem os deuses apodrecidos?

Alvina Nunes Tzovenos 

Palavras ao Tempo


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

''ESTIGMA''




Continuarás amor
sendo meu rochedo
enquanto minhas vagas
soltas a correrem
ao encontro de teu calor
deitaram-se sobre tuas pedras
macias de amor


Continuaras amor
sendo meu rochedo
enquanto ventos e brumas
açoitando minhas agruras,
entre teus penhascos;
braços forem doçuras


Continuaras amor
sendo meu rochedo
enquanto minhas sombras
repousadas sobre ti
desanuviarem-se aos luares. 



Alvina Tzovenos
In: Buscas de Infinitos