quinta-feira, 16 de outubro de 2014
PESADELO
Ah! Este mergulho no poço
do meu eu
como se correntes pálidas
me escorregassem entre
paredes e musgos verdes
mais verdes que a esperança
afagada, surda
na escuridão de um fundo
sem águas.
... sem águas quietas
ressonando inquietações
estáticas e trágica
pelo que haverá de chegar...
Ah! Este mergulho no poço
do meu eu
me fascina de imagens
me questiona de silêncio
me ilude de odor
me revira e me rasga em
pedaços como papel;
minha carne sem cor de
carne
porque meus elos grossos
amordaçam...
Agora, retorno desse
injetável pesadelo
sou fera acuada, cega do
instante
Ressurjo para uma nova
chave de enigma
a vida.
Alvina Nunes Tzovenos
Publicado em 'Almanaque Gaúcho'
Zero Hora - 11/04/2014
Poema para Neruda
Meu preito de gratidão a Pablo Neruda
I
Conheço-te entre ideais
assim, dentro do labirinto de teus poemas
são como sinos de capelas, evocando
uma tempestade de justiça e um derrame de amor.
Tua poesia é como vinho ardente e embriagador
me torna serena e com pruridos de imortalidade.
Beijo teus versos
rasgando oceanos em fúria e apedrejando impotências
abro as celas de todos os cárceres
abrindo janelas de par em par aos gritos de justiça
pelas flores que nascem mortas.
Sinto que és irmão do homem sem pão
que tua bandeira é universal
porque te debateste por ela
te feriste na batalha da igualdade sem engolir o sangue das derrotas.
II
Aqui te reencontro quando
com tua candeia me despertas para a dor das guerras suicidas.
Quando de tua voz abraças-me para um nascer entre amigos
visto-me do orvalho cheiroso de tuas palavras.
Almejaste um rebanho sem ovelhas negras
e como médico de teu povo
teus versos curaram tantas feridas…
Falaste ainda da miséria esquecida, como
flor que se pusesse a machucar nos caminhos…
E, triste, coordenaste horizontes, esmagados por botas de ferro.
Mas soubeste ainda sorrir, porque como poeta
conheceste as paralelas desiguais da vida.
Deslumbro teu vulto, sóbrio dentro das esquinas de teus versos
onde os homens espelham vidas, onde se divide o pão.
III
Os que não te amaram são os errados de seus poderios.
Então tua poesia foi guerra
e como ave liberta empreendeste voos.
Como numa taça de champanhe
estou a sorver teus versos sedutores
brindando pela eloquência de teu destino.
Mas como tu nasceste
para espalhar vida e amor
apalpo as veias de teus versos sedutores
e bebo deles um sangue de céu anilado
um burburinho de abismos
que se abre como crateras de luz branca.
IV
… versos descortinando consciências
sem grilhões aos esperançados de horizontes.
Tuas flores têm a cor da liberdade e da paz
e em tua sepultura jamais elas fenecem
porque teus versos são glórias do amor entre fuzis
do amor sem fronteiras ou espinhos
de palavras arco-íris que não perdem a cor
de ventos que repetem ecos
e de sóis que se aquecem
resguardando-te até a eternidade.
Alvina Nunes Tzovenos
Publicado no 'Almanaque Gaúcho'
Jornal Zero Hora - 22/06/2012
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
A VIDA TEM CORES
A vida tem cores
Nas cores da vida,
Em aquarela tingida
... desenha luz e som !
A vida tem cores
No beijo dos pássaros, num adeus sem perfumes
... no pólen da flores!
A vida tem cores
Numa palavra amarga,
Num céu muito amplo
... presença que tarda!
A vida tem cores
Num abraço amoroso
Num sorriso que chega
... num crepúsculo cheiroso!
A vida tem cores
Nos sonhos vividos,
Nos mares inquietos
... nos encontros perdidos!
A vida tem muitas e muitas cores,
As que ninguém pode ver,
Quando minh’alma chora e ri
Pela felicidade
Que eu posso conter!
A vida tem cores
Mesmo num coração morto!
Alvina Nunes Tzovenos
de Sonhos e Vivencias
domingo, 7 de setembro de 2014
'REDES AO MAR'
Em busca dos horizontes
serei sempre
pescadora de ilusões.
Em minha rede quimera
dormirão meus longos verões
criança sonho . . . primavera.
E nas manhãs e tardinhas
das minhas águas azuis,
meus doces verdes cardumes
os beijarei numa espera . . .
ao entoar minha Paz
abraçando noites-perfumes!
Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos
[Tela by Christian Schloe]
sexta-feira, 11 de julho de 2014
SEGMENTOS
E o homem seguiu entre guizos falsos.
Trazia no rosto uma sofreguidão de charcos.
Era noite
e os fantasmas enlouquecidos não o deixavam seguir.
Assim
andarilho de madrugadas
homem de silêncios fartos
ele se enfatizou.
Riscou de seu rosto a mascara da vida.
Continuava só
e só, continuava em sua busca viscosa.
Já não era mais ele quem fremia
na porta dos bares vazios.
Era a nostalgia de seu espectro
que buscava carnavais de sorrisos.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
DESCOMPASSOS
Baila sob a luz das estrelas.
Desata o fio de teus sapatos.
Deixa que o sol te beije de esperanças e risos.
Faze de tua vida
um hino ao beijar os olhos da manhã
uma harpa ao por os pés no ventre da noite
um rodopio de azuis, de conchas e de búzios.
Deixa que o vento brinque com teus pés
a chuva te beije ate se cansar
as flores e os verdes e os caracóis
enfeitem teus cabelos de verões.
Corre atrás da vida com ternura de criança
e canções plenas de paz
e com risos de palhaços
porque tudo, todos nos
brincamos de viver bem
sempre, sempre
num carrossel
no circo da vida.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
SOBREVIVÊNCIA
Imagens fulgidas bailam no segredo das horas
brincam de luas
redemoinham emoções em espirais de fogo.
Imagens secas ou desfolhadas
manchadas de luz severa
não vestem intenções.
Revoltas em cinzas
brincam de quimeras.
Imagens crianças
risonhas prometem céus.
Imagens esperanças
gritantes
imitam o marulhar das águas.
Imagens retalhos vermelhos
prometem auroras
na crença de todas as horas.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
VIDAS QUE PASSAM
Velho Ano
embarcando
. . . sabor
de caricias já mortas.
Novo Ano
cantando
. . . ilusão
de ofertas tão mornas.
Novo Ano a
nascer
é uma
estrela amanhecendo . . .
Velho Ano a
morrer
é um pássaro
fenecendo . . .
Anos
brotando
Anos
partindo,
. . .
madrigais floreando
. . . barcos
fugindo
Novo Ano,
Velho Ano
. . .
janelas de vidas
. . . folhas
secas . . . repertidas.
Velho é o
Ano em que novo
sorriu numa
noite assim . . .
ANO NOVO -
és para mim
aquele ANO
VELHO – o mesmo sem fim!
Alviana
Tzovenos
In: Buscas
de Infinitos
terça-feira, 19 de novembro de 2013
''AO EXPRESSAR-SE''
Dize da vaga incerta
a bailar sem ausências
sobre teu navio incerto
branco de ausências e canções.
Dize das ruas desertas
de tua canção angústia
desse desejo de regressos
desse choro em tuas varandas . . .
Dize da esperança que não espera
quando teu universo é paz
da noite que não desespera
quando a chuva faz compassos
dentro d’alma.
Dize de ti, do tudo
e do mundo, sem submundo
quando raízes exalam aromas
e quando as flores não morrem.
Alvina Nunes Tzovenos
Palavras ao Tempo
a bailar sem ausências
sobre teu navio incerto
branco de ausências e canções.
Dize das ruas desertas
de tua canção angústia
desse desejo de regressos
desse choro em tuas varandas . . .
Dize da esperança que não espera
quando teu universo é paz
da noite que não desespera
quando a chuva faz compassos
dentro d’alma.
Dize de ti, do tudo
e do mundo, sem submundo
quando raízes exalam aromas
e quando as flores não morrem.
Alvina Nunes Tzovenos
Palavras ao Tempo
terça-feira, 5 de novembro de 2013
''DESTINOS''
E as naves partiram
levando rumos desiguais.
Era noite
e os barcos não vinham.
Havia um regresso de vozes
e um peso de solidão grunhindo no ar.
A manhã custava a se fazer
era um parto demorado
com manchas douradas
que anunciavam um novo ser.
Os campos choravam de bênçãos
e, o ar doce, feria de odores
as narinas da manhã já desperta.
Ouvia-se a vida
no amor das flores, no sabor das cores e no odor
das horas que se assenhoreavam.
. . . éramos nós que amanhecíamos
. . . éramos nós que amávamos
amávamos o amor da Vida!
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
[Arte de Christian Schloe]
levando rumos desiguais.
Era noite
e os barcos não vinham.
Havia um regresso de vozes
e um peso de solidão grunhindo no ar.
A manhã custava a se fazer
era um parto demorado
com manchas douradas
que anunciavam um novo ser.
Os campos choravam de bênçãos
e, o ar doce, feria de odores
as narinas da manhã já desperta.
Ouvia-se a vida
no amor das flores, no sabor das cores e no odor
das horas que se assenhoreavam.
. . . éramos nós que amanhecíamos
. . . éramos nós que amávamos
amávamos o amor da Vida!
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
[Arte de Christian Schloe]
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
''NASCERMOS DE NOVO''
quando
a ferrugem dos dias iguais
a sarjeta das dores
o nublado dos céus incoerentes
o sal dos amargos silêncios
a fome e a sede e a angústia
de sentir paz
descolorindo suas vestes
derramarem em planícies fiéis
o mel dos espelhos precisos
com suas cores de exatidão imortal
sem pressa de fugas
sem abandonos de alcovas
sementes de sangue novo
agitarão bandeiras ao vento.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
''PALAVRAS AO VENTO''
. . . giram no ar
e como gazelas longínquas
ou flor sem espinho
só fogem e cansam e desolam.
. . . gritam ao tempo
em branco
e do outono
tudo dizem.
. . . frívolas ou mentirosas
não marcam horas
ou dizem das estações.
. . . castigam bocas
sedentas de verdade.
. . . flutuam
são barcos
sem memória.
. . . vazias
cantam baladas
baixinho, sem vida.
Palavras ao vento
-tu as levaste
mas nunca
entregue-as a mim.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
[Tela de Rimma N. Vjugovey]
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
''A vida tem cores''
Nas cores da vida,
Em aquarela tingida
... desenha luz e som !
A vida tem cores
No beijo dos pássaros, num adeus sem perfumes
... no pólen da flores!
A vida tem cores
Numa palavra amarga,
Num céu muito amplo
... presença que tarda!
A vida tem cores
Num abraço amoroso
Num sorriso que chega
... num crepúsculo cheiroso!
A vida tem cores
Nos sonhos vividos,
Nos mares inquietos
... nos encontros perdidos!
A vida tem muitas e muitas cores,
As que ninguém pode ver,
Quando minh’alma chora e ri
Pela felicidade
Que eu posso conter!
A vida tem cores
Mesmo num coração morto!
Alvina Nunes Tzovenos
de 'Sonhos e Vivencias'
Assinar:
Postagens (Atom)